enquanto o corpo espera a demora dos sentidos



[: penso] quantas horas de ontem quis eu que viesses e despisses o meu rosto nos teus olhos esquecidos de tempo : quantos lugares percorri eu na esperança de te encontrar mastigando palavras-estaca fincadas por dentro da língua
sabes? nunca foi de futuros o caminho que me faz a ti. nunca foi desses braços inquietos ou da boca que sonhei vencer no desespero consciente das manhãs em que o nome se debruçava sobre mim e o ar sufocava as artérias expulsas há muito do nascer dum novo coração

se me tocas : sou tua
e digo-te [:  que me tocas] e as palavras abandonam a carne para que chegues e me encontres por fabricar e sobejem em mim esses teus dedos que estalam o ar estancado a paisagem por dentro da minha aflição

e o lugar és tu [ : mesmo que seja a única palavra agora ardida da minha inocência]


1 comentário:

rosa disse...

Tão bonito. Nunca me esqueci de ti.
Ou talvez até tenha como quem esquece países que visitou, mas algo ficou cá sempre. Como um língua que se aprende.